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4 de ago. de 2006

As três bibliotecárias

Lembro vagamente que, numa manhã fria que a Isa não foi à aula, eu e a Graci ficamos na biblioteca fazendo um trabalho de português, quando a bibliotecária adorou um poema de minha autoria que estava sobre a nossa mesa. O engraçado é que, aquela mulher que tanto ficou admirada naquele dia, pedindo inclusive que eu autografasse o poema que dei a ela, no dia seguinte nem se lembrava quem eu era. Mas essas coisas acontecem, principalmente com bibliotecárias. Neste mesmo colégio, eu e minhas colegas, concordamos que definitivamente elas eram muito estranhas.

Eram três mulheres que trabalhavam na biblioteca do colégio: a primeira era negra, bem gordinha e parecia estar sempre fazendo um grande esforço físico pelo simples fato de preencher uma ficha ou esticar um braço. Ela gemia como se a roupa a apertasse ou algo do tipo. Ela sorria debilmente tentando ser gentil, mas parecia em outro lugar, como que não se interesse no que dizíamos e acabava dando sempre a mesma resposta.

Certa vez precisei retirar um livro, e ela me advertiu: "Para retirar o livro, só deixando a identidade...". Ela dizia a última palavra como se engolisse "e" do final. O fato é que eu ainda não tinha identidade. Tentei explicar isso a ela, dizendo que eu precisava muito do livro, mas ela era indiferente ao que eu dizia, repetiu a mesma resposta: "Para retirar, o livro só deixando a identidade...". Tentei explicar novamente minha posição desesperadora, afinal o trabalho era em grupo e essa era minha parte, como eu poderia prejudicar também minhas colegas? O xerox ficava logo na esquina, insistí. E novamente ela novamente repetiu: "Para retirar, o livro só deixando a identidade...". Depois disso eu posso garantir que eu tratei de mandar fazer minha identidade. E por fim, o fato mais importante era que quando ela andava, arrastava os tamancos gigantescos, que pareciam de madeira. E por causa disso nós a apelidamos de "tia dos Tocos".

A segunda, era uma senhora idosa, que pensava ser muito elegante. A primeira vez que a ví, ela estava com um sapato de salto tão grande que mal podia se equilibrar e vestindo uma saia super antiga, daquelas que tem um fecho atrás, este aberto, até um pouco mais do meio, por descuido. Ela andava empinada imaginando que aquilo era etiqueta. O rosto com a pintura mais exagerada do que se possa imaginar: tinha ruge nas maçãs do rosto, o que nem era tão ruim por ser um tipo de pintura que nem é mais usada, mas sim pelo fato ela simplesmente não tinha se dado ao trabalho de espalhá-lo no rosto. Nos olhos, um rosa bem forte e a boca emplastada de batom, que pelo jeito era já muito velho. E assim ela permaneceu andando e se "maquiando" por todos os três anos que a ví quase todas as manhãs. Quando eu pensava que não podia ser pior, fui surpreendia quando ela resolve acumprimentar alguém com um "oi". Ela tinha a voz do tipo das mais estranhas que existem. Gasguita e irritante, que rasgam o ouvido e dão uma tremenda vontade de rir. Por incrível que pareça, não chegamos a dar um apelido à ela.

A terceira é que a foi citada no primeiro parágrafo. Ela até parecia ser normal e sipatizava com ela. Mas comecei a pensar que ela era meio perturbada psicologicamente, passava por algum tipo de depressão ou algo parecido. Só podia ser, era a única coisa que, para mim na época, explicava as atitudes dela. Tinha dias que ela se mostrava sem a mínima vontade nos atender, irritada e estressada, enquanto que, em outros era gentil e prestativa chegando a nos contagiar. Sem contar que ela não se lembrava de nada, como já citei antes. Às vezes penso que poderia ela estar ficando realmente pior por trabalhar com as outras duas.

Por mais estranho e maldoso que tudo isso pareça, é só um relato de como eu e minhas amigas víamos essas mulheres naquela época. Atualmente é provavel que a nossa opinião não seria tão crítica quanto à mesmas. Do contrário, hoje eu me ponho no lugar delas e penso como não seria difícil aguentar todos aqueles jovens que entram pela porta dando gargalhadas e falando de coisas estranhas. Quem sabe não fôssemos nós as estranhas e não elas? Independente de qualquer coisa, pra mim elas sempre vão continuar lá, andando, se vestindo e agindo daquela maneira, com suas características peculiares que as tornaram dignas de serem lembradas.

Uma pequena explicação a cerca do texto: Eu escreví quando cursava o ensino médio uns 6 ou 7 anos atrás. Por problemas de formatação do computador eu achava que havia perdido o texto pra sempre. Porém a Isa tinha uma cópia guardada e me emprestou pra copiar. Agora, resolví publicar.

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