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22 de dez. de 2008

A história do livro

O nome dele era Pássaros Feridos. Eu o procurava há muito tempo porque eu e ele tinhamos uma história muito antiga. E estávamos predestinados a nos encontrar naquele dia.

Quando o conheci foi em uma edição que se encontrava na biblioteca da minha escola primária. Na época eu não lia muito bem, tinha um probleminha de concentração. Mas eu era dos 'grandes projetos' como definira certa vez minha professora de educação artística, depois de observar que eu sempre escolhia o desenho mais complicado, o projeto mais impossívelmente grande para trabalhar. Portanto, escolher o maior volume da biblioteca parecia o mais adequado para alguém que nunca tinha conseguido terminar de ler um livro sequer na vida. Obviamente o livro nunca fora terminado, nem os projetos, que sempre me cansavam na metade.

Os anos passaram, eu me formei e continuei me associando na biblioteca da escola primária, até o dia que ela se estinguiu - a biblioteca, não a escola. E dessa maneira, o livro continuava na minha lista de leitura, como um desafio.

Foi na feira do livro de 2008 que o encontrei, enquanto andava entre as bancas. Peguei-o nas mãos, nostalgicamente relembrando todas as vezes incontáveis que tentei chegar ao final dele e rindo ao pensar em como eu me esforçava na época, o que agora não seria esforço nenhum depois de tantos anos e tantos livros.

Folheando com cuidado as páginas amareladas, admirei a arte já antiquada da capa, as marcas de dobras feitas pelo tempo e cada marca que mãos de leitores haviam deixado impressas nele. Verifiquei que tratava-se de uma publicação de 1986, eu tinha três anos nessa época, pouco tempo antes de começar a carregar livros em todos os lugares que eu ia, antes mesmo de saber ler.

Imaginei qual seria a história desse livro. Qual caminho ele teria percorrido durante todo esse tempo desde sua publicação até a chegada em minhas mãos, onde permaneceria seguro e guardado na minha biblioteca. Como teria sido tratado, quantas vezes teria sido lido, quantos teriam conseguido chegar ao final dele. Teria sido considerado importante para alguém como ele era pra mim? Provavelmente não, pois do contrário, ele não teria ido parar em na banca de um sebo, onde o encontrei.

E não, não ele não ficaria comigo até o fim da sua vida e sim da minha vida. Obviamente a história dele não termina em mim, pois é muito provável que ele continue por aqui muito tempo depois que eu já não exista. Então, quem vai contar a história do livro?

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